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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Discurso do Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Quelimane por ocasião do Septuagésimo Sexto Aniversário da Cidade de Quelimane


MUNICÍPIO DE QUELIMANE
CONSELHO MUNICIPAL
PRESIDENTE



Sua Excelência Senhor Governador da Província da Zambézia;
Sua Excelência Senhor Presidente da Assembleia Provincial;
Suas Excelências Senhores Membros do Corpo Diplomático aqui presentes;
Sua Excelência Reverendíssima Senhor Bispo da Diocese de Quelimane;
Suas Excelências Senhores Deputados da Assembleia da República pelo Circulo Eleitoral da Zambézia residentes nessa Autarquia;
Excelentíssimos Senhores Membros da Assembleia Provincial da Zambézia residentes nesta Autarquia;
Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Municipal da Cidade de Quelimane;
Excelentíssimos Senhores membros do Governo Autárquico;
Reverendíssimo Senhor Representante do Conselho Cristão de Moçambique;
Excelentíssimo Senhor Representante da Comunidade Muçulmana Islâmica;
Excelentíssimo Senhor Representante da Comunidade Muçulmana Nativa;
Excelentíssimo Senhor Representante da Comunidade Hindú;
Meritíssimo Juiz Presidente do Tribunal Judicial da Província da Zambézia;
Meritíssimo Juiz Presidente do Tribunal Administrativo da Província da Zambézia;
Digníssimo Procurador da Província da Zambézia;
Afectuosos irmãos Quelimanenses e Zambezianos na diáspora;
Excelentíssimos Senhores Representantes das Universidades. Meus irmãos na academia e na docência;
Excelentíssimos Antigos Presidentes da Autarquia de Quelimane; meus irmãos na municipalização ausentes, falecidos e presentes;
Distintos Convidados;
Queridos amigos de todos os Órgãos de Comunicação Social;
Caros e Respeitados Munícipes;
Minhas irmãs e meus irmãos nesta longa e dignificante marcha para a liberdade;
Muito, muito bom dia a todas e a todos.

Iniciamos este discurso sublinhando que aquando da nossa campanha eleitoral em 2011 e 2013, teríamos prometido tirar Quelimane do anonimato, colocando-a no mapa e na rota internacionais. Volvidos 5 anos, apraz-nos afirmar que a Cidade de Quelimane é sobejamente conhecida além-mar. Quelimane não é Cidade de quem se fala. Quelimane é Cidade com quem se fala.
Desde a nossa tomada de posse, temos tornado Quelimane numa Cidade Sustentável, Resiliente e habitável cumprindo assim com as recomendações das Metas de Desenvolvimento Sustentável e ICLEI que determinam que até 2030, todas as Cidades do Planeta Terra, devem ser habitáveis. Sob nossa liderança, levamos o nome do Município de Quelimane em vários fóruns internacionais, tais como ICLEI na África do Sul, ICLEI na Alemanha e ICLEI no Canadá. Participamos  em conferências nos seguintes Países:  Singapura, Tailândia, Namíbia, Egipto, Suécia, Malawi, Brasil, Zâmbia, Quénia, Franca, Estados Unidos da América, Itália, (Milão) Brasil, para além de  encontros e conferencias no interior de Mocambique.
Tendo dado esta pequena resenha, permitam-nos dizer:
É realmente uma grande honra e privilégio para mim, desejar boas vindas a todos vós que participais neste nobre, sublime e dignificante evento no qual celebramos  76 anos da elevação de Quelimane à categoria de Cidade. Como Cidade e de facto em nome do Conselho Municipal da Cidade de Quelimane, dos seus Munícipes, de todos os funcionários, da minha família e em meu nome pessoal, tenho a elevada honra, gratidão  e grande orgulho para me dirigir a vós neste dia tão lindo e jubilar  em que todos nós nos curvamos diante dos nossos antepassados e prestarmos homenagem a todos quantos deram e têm dado as suas vidas em prol progresso, prosperidade e desenvolvimento harmonioso da nossa urbe para que chegássemos a este dia 21 de Agosto que celebramos os 76 anos da sua elevação à categoria de Cidade, acto que teve lugar a 21 de Agosto de 1942.
Por isso, em homenagem aos nossos ancestrais, pedimos um minuto de silêncio.
Nós estamos honrados em vos receber e hospedar nesta bela, hospitaleira, acolhedora e encantadora Cidade de Quelimane. A Capital da Província da Zambézia, terra dos bons sinais, da mukhapata, da galinha a Zambeziana, do camarão, do thodwe, do caranguejo, da lagosta, do nyambaro, do yalula, do namulele, do ibondo, do máfue, do gioto, do batehe, do muthengo, do baily, do mussope, do marigodi, do tufu, das bicicletas, a capital do coco. O seu povo trabalhador, humilde, hospitaleiro, sensível, acolhedor e generoso, vos abre os seus braços, as suas mãos, e os seus corações para vos dizer de viva voz:
Moyoni Apano Vatchuabo. Bem vindos a Quelimane
Ambarani Atchuabo Etene. Parabéns a todos os Quelimanenses
Permitam-me agradecer a vós todos que estando ocupados com os vossos programas, vieram juntar-se a nós para participarmos nesta epopeia e solenidade para partilhar connosco as vossas valiosas experiências.
Para os nossos visitantes que vêm fora de Quelimane e fora de Moçambique, os assegurámos que Quelimane é uma cidade pacífica. Sintam-se em casa e desfrutem da sua hospitalidade e das iguarias que ela possa vos oferecer. Estou certo e espero que muitos de vós terão a chance de visitar a nossa linda Praia de Zalala, deliciar-se da nossa gastronomia, interagir com a nossa população para experimentarem a alegria da nossa hospitalidade e deste modo regressarem um dia para Quelimane. Bebam água de lanho e viagem de bicicletas como vossa contribuição na redução da poluição e na proteção da nossa infraestrutura verde.
As celebrações dos 76 anos, serão caracterizadas pelo estabelecimento de redes focando aspectos de como fazer negócio em Quelimane. Nós, como Conselho Municipal estamos comprometidos na criação e melhoramento do ambiente de negócios que permita atração de investimentos e garanta a criação de empregos e postos de trabalho para muitos.





Afectuosos Munícipes
Distintos Convidados
Minhas Senhoras e meus Senhores
Apraz-me a partir deste pódio falar sobre este Quelimane, com particular carinho e veneração, trazendo ao de cima o seu invejável percurso desde os primeiros povos que o habitaram.
Desde o seu primitivo povo de caçadores, recolectores e nómadas os Khoi Khoi e os San, ou seja os Khoisan, Hotentotes e Bushimanes, à chegada dos povos mais evolucionados, os povos de língua bantu, agricultores, pastores, metalúrgicos e sedentários, entre os anos 200 e 300 depois do nascimento de Jesus Cristo, seguida pela chegada dos mercadores Árabe-Persas, com maior enfoque a Dinastia dos Sassânidas, a qual é a atribuída a fundação de Sofala, cujas vagas iniciaram timidamente no século VI depois de Cristo, na altura dos Kalifados, tendo atingido o seu auge e apogeu entre os séculos VIII, IX e X. Importa sublinhar que no século X, Sofala era referida nos relatos do persa Ibn Shahriyar e do árabe Al-Mas’udi. Portanto, a geografia de Quelimane e Sofala constavam do mapa Árabe-Persa.
Para além da Dinastia Sassânida, chegam os mercadores Europeus, nos finais do Século XV precisamente em 1498, quando o navegador Português Vasco da Gama usufruindo do avanço da Ciência Náutica na Escola de Sagres no Algarve, donde o Infante Dom Henrique se estabelecera, para conduzir a política dos descobrimentos, a população de Quelimane experimentou um intenso período de inculturação e aculturação. Como consequência, temos a língua Portuguesa, o Cristianismo e o Islão. Os cruzamentos ou seja casamentos entre homens Europeus e mulheres Africanas originaram mestiços e entre homens Asiáticos com a mulheres Africanas originaram Canecos.
Nos finais no século XV, precisamente entre 22 e 25 de Janeiro de 1498 com o  navegador Vasco da Gama, a caminho da Índia desembarcou e  entrou no estuário do Rio Qua-Qua, nome primitivo do Rio dos Bons Sinais. Depois de ter chegado à barra de Quelimane baptizou o rio com nome de Rio dos Bons Sinais, pois, tinha a certeza e concluído  que eram bons sinais do caminho marítimo para chegar a India.
Ao desembarcar implantou na praia de Palane que na altura denominou de São Rafael, um pesado padrão de pedra com as armas reais da Coroa Portuguesa e entalhou uma Cruz.
Depois da passagem de Vasco da Gama, Portugal inicia com fundação de feitorias ou fortalezas, tendo sido fundadas a de Sofala em 1505, da Ilha de Moçambique em 1507. Em 1511, os Portugueses atacaram Angoche, onde os Árabe-Suwahili tinham formado um núcleo de resistência e usavam o Rio Zambeze como via fluvial de penetração para o interior ou seja no Planalto do Zimbawe para comercialização do outo e ferro.
O ataque ao então Sultanato de Angoche, hoje Distrito do mesmo nome, pelos Portugueses, tinha como objectivo tomarem o controlo das rotas comerciais através do rio Zambeze para o Planalto do Zimbabwe principal fonte de ouro.
Em 1522 os Portugueses conquistaram e fixaram-se nas Ilhas de Cabo Delgado ou Quirimbas. Em 1530, penetram no rio Cuama, (nome primitivo do rio Zambeze) e no mesmo ano, fundam Sena e Tete nas margens do Rio Zambeze. Em 1544, fundam Quelimane. A presente cronologia afecta directamente Quelimane, porque foi a principal rota do comércio a longa distância, pois, com o estabelecimento de Quelimane estavam criadas as condições para que efectivamente os Portugueses controlassem as rotas comercias através dos Rios Zambeze e antigo Rio Qua-qua, hoje Rio dos Bons Sinais, o qual era navegável até entre finais do sé eculo VII e  primórdios do século XVIII. O rio Qua-qua ligava Quelimane com o Rio Zambeze, em Chimuara no Distrito de Mopeia, e também ligava Quelimane com Sena, Tete e o Planalto do Zimbabwe. Era tida como a via fluvial mais rápida do que fazer Rota Quelimane- Rio Zambeze-Planalto do Zimbabwe e vice-versa. 
Quelimane sofreu pressão da fase do ouro, do marfim e do comércio triangular ou seja de escravos (África, Ásia, Europa e as Américas). Estima-se que por volta de 1820, cerca de quatro mil escravos trazidos da área dos Prazos e dos Estados Militares do Vale do Zambeze, eram escoados para as Ilhas Francesas do Indico, Bourbon, Madagáscar e Reunião, enquanto outros eram levados para Europa, América Latina, e América do Norte, a partir do Porto de Quelimane. Por isso, não nos admiremos que encontremos nossos irmãos Quelimanenses naqueles Países.

Ilustres Convidados
Minhas e meus Senhores
O topónimo Quelimane, nos é apresentado por António Carlos Pereira Cabral, (1975:134-136), na sua obra Dicionário de Nomes Geográficos de Moçambique – Sua Origem, e escreve:
Capital do distrito da Zambézia. Sede do Conselho de Quelimane. Diploma de criação: Carta Régia de 9 de Maio de 1761. Elevada a Cidade pela Portaria Ministerial, nº 1, de 21 de Agosto de 1942, assinado pelo então Ministro do Ultramar, Francisco Vieira Machado, publicada no Boletim Oficial número 32/1942 (Suplemento). A supracitada Portaria Ministerial, foi antecedida pelo foral aprovado por decreto de 31 de Dezembro de 1908. O que ditou a elevação de Quelimane a categoria de Cidade, e de acordo com o despacho o qual citamos, referia:
“consideração ao natural desenvolvimento da Vila de Quelimane, capital da Província da Zambézia; desejando dar público testemunho de apreço pela actividade e labor da população que, com carinhoso interesse pela terra, tão completamente transformou a Vila de Quelimane”. Com base neste postulado, apraz-nos afirmar sem reservas, que o povo de Quelimane é um povo laborioso e trabalhador até os dias de hoje.
BEM HAJA O FERVOROSO E HERÓICO POVO DE QUELIMANE.
Concordando com os Historiadores os quais defendem que um dos problemas de África prende-se com ausência de documentos históricos escritos, tendo recorrido à  tradição oral, aqui não foge a regra. O que se sabe desta Cidade é o que é transmitido pela tradição oral e de algumas obras escritas. A primeira notícia sobre Quelimane é datada em plena Idade Média, sobretudo em 1154, através de um cronista árabe, chamado El Edrisi. Este autor, falando numa corte Italiana, refere-se a um Dendema, um burgo situado na nossa área, supostamente antepassado do actual Quelimane.
Situa-se na margem esquerda do rio dos Bons Sinais, outrora chamado rio Qua-Qua. Já se escreveu Kilimane, Quilimane e Quiliamo. Quiliamo encontra-se num mapa de 1740. Algumas pessoas defendem que Quelimane deriva do Inglês «kill man» (mata o homen), dada a natureza insalubre da localidade. Este «kill man» foi comparado por Livingstone e ai essa ideia.
«Quelimane, ou ainda Kiliame, provém, diz-se, de Kilimo (monte) em Suaile. Há ainda outra versão da palavra Quelimane: quando os primeiros portugueses desembarcaram no porto que mais tarde se denominou Quelimane, o chefe da povoação que ali existia, árabe ou seu descendente, serviu de intérprete entre os portugueses e os indígenas, no árabe corrompido que se falava na costa; a palavra «kaliman» significa intérprete. (vide A. Augusto Pereira Cabral, 1924).
Também há quem insista que deriva de «culima» --- agricultar, mas isso não passa de pura fantasia, tal qual o «kill man».
«Dos nativos de Quelimane que se dizem originários do monte Limane, alguns pertencem ao próprio clã ou mwango limane ou alimane. Assim é, pois, natural que os intérpretes que acompanhavam Vasco da Gama, conhecedores do significado do prefixo «qui», ao ouvirem os Achuabo designarem-se por «limani» os tratassem por «qui – limani», fazendo referência à língua por eles falada, (Adm. S. Dias Rafael, Milange e os seus povos).
As versões de A.A.P. Cabral e de Saul Dias Rafael são as mais aceitáveis, pois, elas estão em consonância com o mito de criação da maioria dos grupos étnicos que actualmente habitam as Províncias da Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa. A população de Quelimane, em termos étnicos, faz parte do grupo Makhuwa -Lomwe que afirma ter a sua origem nos montes Namuli no Gurué. 
Os montes Namuli simbolizam a unidade cultural, económica, linguística, política e religiosa dos Makhuwa – lomwe, incluído os chuabos.
Quelimane é popularmente conhecido por «Chuabo». Qual o seu significado? No «Diário» de Lacerda e Almeida (1798), encontramos: «um chuabo de velório (20 fios)» e «Chuabo» (uma braça de pano de qualquer qualidade). Velório é missanga grossa. Também esta versão sobre o chuabo se aproxima à realidade, pois, estes povos tiveram um contacto permanente com os mercadores árabes que traziam do Oriente especiarias incluindo as missangas, porcelanas e tecidos de seda.
Também sublinhe-se que Quelimane por ter sido entreposto ou feitoria comercial, recebia povos do Niassa entre os séculos XVII e XVIII que iam vender tabaco em Macuse, os povos de Tete que vinham fazer comércio, que, em contacto com os locais, formou-se língua chuabo. Portanto, o chuabo é resultado do encontro entre comerciantes Árabes, comerciantes de Tete e do Niassa.
A Cidade de Quelimane precisa de pesquisadores que se empenhem na reconstituição do acervo histórico desta terra.


Digníssimos convidados
Minhas irmãs e meus irmãos
Esta Cidade foi conhecida por Vila de São Martinho de Quelimane e em 1757 tinha trinta moradores, dos quais dois eram portugueses. A população, então, era na sua maioria pagã e maometana e já antes de 1654 tinha uma Igreja de Madeira e um Padre Jesuíta. 
Os Jesuítas foram os primeiros missionários a evangelizar estas terras do Vale do Zambeze, pois, a história reza e manda dizer que em 1560 uma expedição missionária chefiada pelo Padre Gonçalo da Silveira, dos Jesuítas, foi enviada ao Império de Monomotapa, para converter a classe dominante à Religião Católica. Estava claro que os portugueses estavam envolvidos na esfera ideológica do Império, pois, para eles ter o imperador e a sua família baptizados, serviria de trampolim para a concretização dos seus planos de comércio de ouro. Dilatar a Fé Cristã também era uma das tarefas de Vasco da Gama.
Só em 1629 Mavura, Monomotapa reinante, deixou-se baptizar e passou a usar o nome cristão de Filipe, cognominado D. Filipe II (História de Moçambique Vol. I, 1988: 14).  Foi assim que iniciou a evangelização no Vale do Zambeze, incluindo a Cidade de Quelimane.
No segundo quartel do século XIX passou a ser a sede do Governo dos Rios de Sena e tinha somente «trinta e oito casas de taipa, cobertas de colmo, duas de alvenaria e cerca de quarenta palhotas, uma Igreja da invocação de Nossa Senhora do Livramento, sede da paróquia, que pertencera aos Jesuítas. Não existia alfândega, nem cadeia, nem edifício da Câmara, reunindo-se os vereadores ora em casa de um, ora em casa de outro, andando o arquivo aos tombos…A sua população andava neste tempo por duzentos cristãos, a maior parte dos quais de Goa e Damão e raros da Europa» (Gen.Teixeira Botelho).
Uma das marcas de Quelimane é o Carnaval que torna esta Cidade no Pequeno Brasil e um ambiente folclórico indelével tornando Quelimane no Pequeno Brasil. :
A este respeito, o Visconde Arriaga, que foi juiz e governador – geral, escreveu que «em 1820 os habitantes de Quelimane, que pela sua riqueza se consideravam a povoação mais importante e aristocrática da Província, proclamaram-se independentes do governo da capital e ligando-se ao Rio de Janeiro». Portanto, foi desde 1820 que Quelimane está ligado ao Brasil. Ainda sobre Quelimane, o cronista Damião de Góis escreveu:
«Desta terra da boa gente a armada aos quinze dias de Janeiro (1498), e aos vinte e cinco, dia da conversão de São Paulo, chegou à boca de um rio grande muito fresco, e de muitas frutas e arvoredo, onde ancorou já bem tarde, e logo pela manhã viram vir rio abaixo algumas almadias a remo com gente da mesma qualidade, das do rio de cobre, e entre eles alguns mais baços. Estes homens em chegando as naus sem medo, nem receio subiram pela exarcia tão seguros como se tiveram conhecimento, e amizade com os nossos, que vendo a limpeza deles os deixaram entrar nas naus, onde foram bem festejados, tudo por acenos e sinais, por quanto Martin Afonso nem as outras línguas os pudessem entender… Vasco da Gama, mandou vestir estes homens de pano de seda de cores, com os quais vinha um mancebo de quem por acenos, com algumas palavras que falava de arabigo, puderam os nossos entender que a terra donde vinham naus como as nossas e que não era muito longe dali. A qual nova foi de grande contentamento a todos, e por isso pôs, Vasco da Gama nome a este rio, dos bons sinais, onde mandou meter um padrão em terra que pôs o nome de São Rafael, e ali deixou dois degredados».
«Quelimane: O comércio de importação e exportação dos Rios de Sena concentrava-se na sua totalidade em Quelimane, a 6 (seis) léguas terra dentro, junto dum braço do Zambeze. Era tão difícil passar a barra deste porto, que estava prescrito civil e religiosamente para todo o cristão, que comungasse antes de abandonar o cais. Havia, inclusivamente, uma guarnição, mas não havia instalações defensivas. A dificuldade de penetrar no porto constituía de certo modo uma defesa natural. Ao capitão de Quelimane estava entregue o comando da guarnição, assim como a administração de Quelimane e da respectiva capitania. Como juiz, exercia também a jurisdição e era, na qualidade de feitor, responsável pelo comércio entre Moçambique e os Rios de Sena. Como as fontes disponíveis não mencionam habitantes muçulmanos, a população do lugar, famosa pela generosidade do clima e pela qualidade do solo, compunha-se naturalmente de alguns europeus, mas sobretudo de cristãos indianos (canarins de Goa) e de mestiços (filhos da terra). Pinto de Miranda faz uma instrutiva descrição da comunidade de Quelimane em meados do século XVIII: «Estas são as casas principais de que compõem a vila de Quelimane, a qual se acha toda um mato donde passeiam tigres, ticas e cavalos marinhos…As casas são formadas todas de madeira e lodo e cobertas de palha. Além dos matos que a vila tem, há imensas palmeiras, laranjeiras, limoeiros, mangueiras, e outras árvores infrutíferas que servem de tirar a vista, de ruína as casas porque caindo-lhe por causa do vento, ou velhice se prostram por terra» (FritzHoppe, «A África Oriental Portuguesa no tempo do Marquês de Pombal – 1750 – 1777», Agência Geral do Ultramar, Lisboa).
Quelimane do sal- Localidade no conselho de Quelimane, onde desde há muito se exploram salinas. Foi um prazo de dona Teodora Temporária de Matos, lendária figura, que morreu em 1898 com a idade de 110 anos. Possuía este prazo desde 1829 e foi daqui que seu filho João Bonifácio estendeu os seus negócios pela costa, passando por Maganja da Costa até Angoche.
Desde os tempos imemoriais.  Quelimane entrou na rota do mapa do património cultural e material da humanidade.
A Catedral Velha ou a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento, mandada erguer por saudoso Governador e Capitão General do Estado, Baltazar Rebelo Pereira do  Lago, em 1776, e, mandada concluir pelo seu sucessor o Governador António Manoel de Mello e Castro, em 1786, depois da morte do anterior Governador, faz parte do património material da humanidade, incluindo o actual edifício da Câmara Municipal de Quelimane, cuja construção teve início em 1857 e concluído em 1888.
Foi nessa altura que os Governos Europeus criaram instituições e financiaram cientistas para realizarem viagens de estudo. Entre 1849 e 1877, missionários, cientistas, etc., empreenderam viagens de reconhecimento. Dentre os exploradores do Continente Africano destacam-se:
David Livingstone, missionário inglês que entre 1849 e 1873, percorreu o curso do rio Zambeze, o Lago Niassa e a região da Tanganhica ou Tanzânia atingindo as nascentes do rio Zaire.
Serpa Pinto atravessou o Continente entre 1877 a 1880.
Capelo e Ivens partiram de Moçâmedes em Angola chegaram a Quelimane em Moçambique. Foi esta viagem que motivou aos Portugueses desenharem o seu projecto conhecido com o nome de África Meridional Portuguesa, ou seja Mapa cor-de-rosa, com a intenção de ligar Moçambique com Angola. Para materializar este plano, o então Ministro Português dos Estrangeiros Barros Gomes, em 1886 evocou o estado livre do Congo como exemplo para este projecto. Todavia, porque este projecto atravessaria territórios sob controlo Britânico e porque iria contrariar o ambicioso projecto de Cecil Rhodes de construir linha férrea ligando a Cidade do Cabo na África do Sul com a Cidade do Cairo no Egipto, o projecto de África Meridional Portuguesa não avançou.

Excelências;
Não deixaríamos de sublinhar que Quelimane para além de Conselho, ela é a capital da nossa riquíssima Província da Zambézia, aquela que até 1975 contribuía com aproximadamente 40% do Produto Interno Bruto (PIB) ao nível da Colónia mercê da presença das Companhias Arrendatárias tais como a Madal, a Boror, a Sena Sugar States, a Companhia da Zambézia, as Chazeiras do Gurué, Tacuane, Socone e Milange. As zonas mineiras espalhadas por toda a Província. Aliado a isso, as Concessionárias do Algodão jogavam um papel de suma importância, na garantia dos meios de subsistências aos Zambezianos. A linha férrea ligando o Porto de Quelimane com a Cidade de Mocuba, cuja exploração foi aberta em 1922, (de LIMA, Alfredo Pereira, 1971:212) in História dos CFM, Vol.II, foi a espinha dorsal para a robustez da economia da Zambézia em geral e de Quelimane em particular, pois escoava as mercadoras que eram trazidas por uma rede de camionagem dos Distritos da Alta Zambézia para Mocuba e daqui de comboio para o Porto de Quelimane.
A Cidade de Quelimane desde os primórdios do século XIX e no decurso do século XX, foi considerada um ponto estratégico na dinamização da economia para o Interland, nomeadamente Malawi e Tete. De Lima, (1971:203), escreve que “Entretanto, com a ideia nesse caminho de ferro Tete/Quelimane, numa extensão de 113 milhas…como preconizava Delfin Monteiro, em 1908, foi criada a comissão de Melhoramento do Porto de Quelimane. Esta medida foi então considerada de grande alcance, pois a esse porto se augurava um lugar de destaque de testa do projecto caminho de ferro internacional”. Foi na segunda metade do Século XIXque os primeiros navios de mercadoria ligam o Porto de Quelimane com o resto do mundo.
O projecto da Linha Férrea tinha uma extensão ambiciosa com seguintes ramais:
Quelimane – Nicoadala.
Nicoadala- Zero.
Zero- Luabo passando por Mopeia, para escoar açúcar para o Porto de Quelimane.
Nicoadala-Mocuba
Mocuba-Tacuane- Gurué- Mutuali em Nampula, passando pelas chazeiras para escoar chá através do corredor de Nacala e Porto de Quelimane.
Mocuba- Nampevo- Gilé, passando pelo território dos minérios de Marrupino, Médio Mulela e Moiane.
Gilé –Moebase para escoar areias pesadas para o Porto de Quelimane.
Gilé-Alto Molocué- Iapala, em Nampula, conectando com o Corredor de Nacala e Porto de Quelimane.
O projecto linha férrea iniciado nos finais do século XIX e só implementado para Mocuba nos primórdios do século XX, se tivesse sido implementado na sua plenitude, criaria robustez da economia das Províncias da Zambézia, Niassa, Tete e Nampula e porque não Cabo Delgado. A circulação de pessoas e bens seria uma grande conquista. Os progressos económico, social e cultural seriam alavancados. Seria o nosso mapa cor-de-rosa, diferente daquele concebido pelo então Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Barros Gomes, em 1886, o qual deveria ligar Moçâmedes em Angola com Quelimane em Moçambique. Urge resgatarmos o projecto TransZambezia para dinamizar o rápido crescimento e desenvolvimento económicos desta sub-região das quatro Províncias acima referidas as quais podem contribuir com acima de 50% do PIB nacional.
Para além do seu papel preponderante na economia, a Cidade de Quelimane também foi o lugar onde eram traçadas as estratégias políticas da colónia e não só. A título de exemplo, em Junho de 1907, o antigo Capitão-Mor de Angoche, Eduardo do Couto Lupi, assumiu o cargo de governador do Distrito de Quelimane tendo permanecido até Maio de 1915. Lupi, dividiu a fronteira leste em duas capitanias-mor sendo uma no Alto Molocué e outra no baixo Molocué, actual Pebane. Com a chegada de Lupi consolida-se o processo das fronteiras do Distrito de Quelimane, processo iniciado pelo governador-geral, João de Azevedo Coutinho, que entre 1905-1906 mandou incluir no Distrito de Quelimane, os actuais Distritos do Ile, Alto Molocue, Gilé e Pebane, na altura pertencentes a Angoche no Distrito de Moçambique hoje Nampula (PELISSIER, René, 1971:159ss).

Caros irmãos e irmãs e todo o protocolo observado!
Desde que assumimos o Município de Quelimane esta Urbe tem registado um progresso assinalável em todos aspectos. Quelimane já saiu do anonimato. Já está no mapa e na rota internacionais. Participa em muitos fóruns internacionais. Aqui é na Cátedra da verdadeira inclusão, da verdadeira unidade nacional e da verdadeira democracia, pois, o princípio da boa governação, honestidade, prestação de contas, transparência e integridade residem em Quelimane. No Município de Quelimane a ideologia fica fora e prevalece a meritocracia visto que a admissão de todos os funcionários obedece aos ditames da Constituição da República de Moçambique.
Por isso aqui no Município de Quelimane a meritocracia e competência estão acima de qualquer filiação partidária. Fazendo nossas as abordagens dos Arqueólogos, atinentes ao berço da humanidade, apraz-nos sublinhar que o Município de Quelimane é o berço da democracia, da tolerância política, da inclusão, e daqui irradia para toda a Província da Zambézia e para toda a República de Moçambique.
Nos inspiramos em Nelson Mandela patrono da inclusão. Estamos a edificar em Quelimane, Município Arco ĺris. Todos têm lugar e reina o amor fraterno, cordialidade e concórdia . Temos estado a construir pontes de paz, da tolerância, da inclusão, etc. Nunca construímos muros de segregação, de exclusão, de intolerância. Esta inspiração, no arquitecto da verdadeira unidade nacional, da verdadeira reconciliação e o arauto da paz, deixou-nos a celebre e indelével passagem:

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, ou por sua origem, ou sua religião, ou sua convicção política. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o ódio. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”. 

Caros irmãos Zambezianos na diáspora;
Quando afirmamos que o Município de Quelimane é o berço da democracia, da tolerância e da unidade entre todos nós, onde convivemos e coexistimos pacificamente, e, para provar o que temos estado a falar, apresentamos aqui e agora, alguns antigos Presidentes que trabalharam nesta nossa Autarquia. Não olhamos a sua raça, a sua matriz política, a sua origem provinciana, a sua religião, etc. Todos são nossos irmãos e estão inclusos nesta nossa epopeia. Alguns estão presentes nesta celebração e outros ou parque partiram deste mundo ou seja faleceram, ou porque não tiveram tempo de chegar até aqui, mas todos eles  estão nos nossos corações. São eles:

Nome
Função
Ano
MANUEL DE AVELAR GEORGE

Administrador da Comissão Administrativa
1943
ANTÓNIO SILVINO MEIRELES

Administrador da Comissão Administrativa
1945
PEDRO DE SEQUEIRO ZILHÃO – Capitão-tenente de Marinha
Presidente da Câmara Municipal
1947-1948
CÂNDIDO DE BARROS

Presidente da Câmara Municipal
1958
JOAQUIM DE SANTANA AFONSO

O Vogal mais Velho, servindo de Presidente
1963
DANILO COSTA
Presidente da Câmara Municipal
Nas vésperas da Independência de Moçambique
JACINTO RICARDO
Presidente da Câmara Municipal e mais tarde do Conselho Executivo
1975. Faleceu num acidente de viação em Vilanculos em Novembro de 1976.
FAQUIR BAY NALAGY FAQUIR BAY
Presidente do Conselho Executivo

JEREMIAS LANGA
Presidente do Conselho Executivo

JOÃO MARCOS MUNGOY
Presidente do Conselho Executivo

GABRIEL NOMBORA ZUCULE
Presidente do Conselho Executivo

JOSÉ CHEREQUEJANHE
Presidente do Conselho Executivo

JAIME GERENTE
Presidente do Conselho Executivo

HONÓORIO PEREIRA VAZ
Presidente do Conselho Executivo

PIO AUGURTO MATOS
Presidente do Conselho Municipal
1998-2011
PROFESSOR DOUTOR MANUEL ANTÓNIO ALCULETE LOPES DE ARAÚJO
Presidente do Conselho Municipal em exercício
2011+

A nossa acção governativa chega a todos os Postos Administrativos e em todos os bairros. Conhecemos todos os bairros de Quelimane e como prova disso, apresentamos aqui e agora cada Posto Administrativo com os seus respectivos bairros.

Posto Administrativo número 1 com os seguintes bairros:
Liberdade, F.S Magaia, Torrone Velho, Chirangano, Aeroporto A, Aeropoto B, Aeroporto C, Kansa, Unidade Popular, Piloto, Mapiazua, Chaubo Dembe, Sinacura, Bairro Novo, Saguar A, e Saguar B.

Posto Administrativo número 2 com os seguintes bairros:
Icídua, Janeiro, Torrone Novo A, Torrone Novo B, Coalane A, Coalane, Ivagalane, Murropué, Sangarivera A, Sangarivera B, 7 de Abril e Nhanhibua.


Posto Administrativo número 3 com os seguintes bairros:
Samugué, Primeiro de Maio A, Primeiro de Maio B, 25 de Setembro, 3 de Fevereiro, Coalane Primeiro, Acordos de Lusaka A, Acordos de Lusaka B, Cololo, Sampene A e Sampene B.

Posto Administrativo número 4 com os seguintes bairros:
Inhangome, Santagua A, Santagua B1, Santagua B2, Manhaua A, Manahua B, Brandão, 17 de Setembro, Floresta A, Floresta B, Micajune A, Micajune B, e Mariana.
Posto Administativo número 5 com os seguintes bairros:
Gogone, Torrone, Bazar, Mborio, Migano e Mutotora.

Minhas Senhoras e meus Senhores
Permitam-nos que usemos esta singela cerimónia para que mais uma nos curvemos, paguemos tributo e prestemos homenagem a todos os fazedores desta bela, vibrante, encantadora, acolhedora, carinhosa, hospitaleira e dinâmica Cidade a terra dos Bons Sinais. Não deixaríamos de mencionar as figuras mais notáveis e emblemáticas da nossa Urbe, que souberam elevar bem alto a nossa bandeira de dignidade, identidade, resistência e intelectualidade. Nos referimos dos escritores Eduardo White, Alfredo de Aguiar, este último, que entre 1886/1894 funda três periódicos em Quelimane, nos quais ataca a exploração e opressão colonial (História de Moçambique Vol.I:15).
A todos eles os recordamos com a devida vénia pelos seus feitos gloriosos na luta pelo desenvolvimento da Cidade de Quelimane especialmente no campo literário.
Aos músicos e desportistas, como Dr. Mussa Rodrigues, Eduardo Carimo, Joaquim João e outros, os que escreveram com letras de ouro e tinta indelével a nossa cultura e a nossa história, reconhecendo tudo quanto fizeram em prol e prosperidade de Quelimane elevamos bem alto a nossa gratidão. Homenageamos a todos os timoneiros que depois do alvor da Independência Nacional, trabalharam e contribuíram com o seu saber para o progresso do nosso povo.
À diáspora Quelimanense, pedimos humildemente que venha investir para edificarmos o nosso Quelimane, continuar cada vez mais robusto e que juntos coloquemo-lo no mapa e na rota internacionais. 
Igualmente aproveitamos o ensejo para agradecer a todos os ilustres Amwene a Mpaddo (Régulos), os quais construíram Quelimane, até 1975 e continuam construindo, até hoje. Nesta lista inclui-se os de Maquival e Inhassunge, em virtude de Quelimane da época ter abarcado aqueles territórios. Embora hoje tenham sido desmembrados, a sua vida faz parte da História de Quelimane. São eles:
Andate, André, Bernanrdo, Caocha, Chigaval, Cufa, Fijamo, Froi, Geriano, Machemba, Matinada, Muguerrima, Muinje, Mundimo, Murrimba, Nauilobe, Naquera, Norte, Olinda, Patrício, Saide, Selemane, Sunde, Tivira, Wachave entre outros.
Terminamos dizendo que temos assinalado várias realizações destacando-se pavimentação e asfaltagem de algumas avenidas,  restauro do mangal, construção de casas resilientes, construção da casa do bairro, restauração da casa de direito e do cidadão, compra de camiões porta contentores,  motoniveladora entre outras realizações para tornar a Cidade mais limpa sem buracos e tornar qualidade de vida dos Munícipes numa realidade. Temos projecto Quelimane Limpa e Quelimane Agrícola.
Por último felicitar a todos os Munícipes pela passagem de Setenta e seis anos da Cidade de Quelimane e desejar a todos boas festas. Permitam-me agradecer aos organizadores deste evento pelo bom trabalho.
A todos os homens, as mulheres, os jovens, as crianças, os adultos e os velhos que durante os dias da celebração deste septuagésimo sexto aniversário da Cidade de Quelimane fizeram-se a este local, e também têm estado a participar  indiferentes ao sol, ao frio, ao calor e a chuva, vos saúdo com fraternidade. 

Dinoutamalelani
Khotepha otamala
Ndazimba Maning
Zikomo Kwambiri
Muito obrigado

Quelimane, Rumo aos Bons Sinais, 21 de Agosto de 2018.

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